Review: Fire Emblem Engage é bom jogo, mas sequência ruim para Three Houses
Foco em combate agrada, mas história e personagens ficam de lado
De todas as franquias da Nintendo, nenhuma pula de um lado para o outro tanto quanto Fire Emblem. Cada jogo da série muda de direção completamente – e o novo Fire Emblem Engage não é diferente.
Isso significa que, se você estava esperando um sucessor de Fire Emblem: Three Houses... eu tenho más notícias. Em vez de focar na trama política e nos relacionamentos entre personagens, Engage mira unicamente nos combates.
Para os combates, isso é ótimo: a mecânica de RPG tático é refinada e envolvente, auxiliada por melhorias técnicas drásticas em relação ao jogo anterior. Mas pra todo o resto, nem tanto.
Fire Emblem Engage é um bom jogo, mas uma péssima sequência para Three Houses. Sem tantos personagens carismáticos e com uma história desinteressante e previsível, o jogo tem grandes chances de decepcionar quem se apaixonou pela franquia no capítulo anterior.
Metade aventura com personagens inéditos, metade comemoração do legado da franquia, Fire Emblem Engage conta a história do Dragão Divino, contrapartida do recém-desperto Dragão Sombrio, que precisa se aventurar pelo mundo atrás de anéis mágicos. Deles, surgem os Emblemas: reencarnações espirituais de heróis de outros jogos da franquia, como Marth, Roy e Ike.
As figuras clássicas fazem parte da trama, mas, diferente do que os trailers pareciam indicar, apenas de maneira superficial. Seu real propósito é fomentar o mais libertador sistema de progressão de unidades da história da franquia.
Todos os soldados do exército de Alear, o Dragão Divino, são capazes de equipar os anéis que contêm os poderes dos heróis de outrora. Ao fazê-lo, eles começam a herdar as técnicas de tais heróis, desde poderes especiais até a simples habilidade de manusear diferentes tipos de armas. Isso permite que o jogador direcione o treinamento de suas unidades para onde quiser. O curandeiro Jean pode acabar se transformando em um poderoso usuário de lanças – basta treiná-lo ao lado do Emblema correto.
Unidades equipadas com um Emblema também podem assumir temporariamente uma forma de super guerreiros ao fundirem-se com os espíritos contidos nos anéis. É uma camada a mais de versatilidade no combate, que permite que a ladra Yunaka se transforme repentinamente em uma poderosa maga, por exemplo.
A combinação entre a mecânica simples de RPG tático e a complexidade do sistema de progressão de personagens torna os combates de Fire Emblem Engage muito viciantes. Até mesmo batalhas opcionais que aparecem no mapa, historicamente ignoradas por muitos fãs da franquia, tornam-se felizes oportunidades para experimentar novas táticas e maneiras de usar seus combatentes.
Este aspecto do jogo também é muito auxiliado pelas enormes melhorias técnicas e visuais que Engage traz em comparação com Three Houses. A ação flui com leveza mesmo nos momentos mais caóticos, e as animações de combate são as mais impressionantes e diversificadas de toda a franquia.
De um fã antigo de Fire Emblem, fica a recomendação: jogue Engage pelo menos no Hard, com a morte permanente de personagens habilitadas. A tensão de saber que um único movimento errado pode custar a vida de um guerreiro que você acabou de recrutar acrescenta muito à experiência, ainda que exista uma mecânica que permita que turnos sejam refeitos algumas vezes por partida caso algo dê muito errado.
No fim das contas, Fire Emblem Engage me lembra muito da campanha Conquest de Fire Emblem Fates, lançada em 2015 para o 3DS. Como o lançamento de Switch, aquele jogo tinha excelentes mapas de batalha e uma boa curva de dificuldade, mas também personagens fraquíssimos e uma história nada convincente.
Ainda que Three Houses tivesse, sim, alguns heróis estereotipados que raramente progrediam além de seus conceitos mais básicos, pelo menos aquele jogo tentava algo com seus personagens. Em Engage, todos conversam entre si da maneira menos natural possível, fazendo questão de mencionar seus únicos interesses a todo momento – como a arqueira Etie, que só fala de musculação.
Com o tempo, passei a me importar com os personagens apenas por sua utilidade em batalha – e, assim, parei de dar muita bola para o que acontecia na história. Momentos dramáticos vinham e passavam sem qualquer reflexo no meu humor, que é algo que dificilmente aconteceria em um jogo como Three Houses.
O mais estranho é que Engage ainda se dá ao trabalho de criar toda uma área explorável dedicada exclusivamente às interações sociais entre os guerreiros do exército: o Somnium, que é uma fortaleza móvel. Nela, você pode realizar atividades mundanas ao lado de seus companheiros, como cuidar de animais adotados pelo mundo ou alterar os modelitos usados pelos personagens fora de combate, além de se preparar para as batalhas comprando itens e equipamentos.
É tudo muito fofo, mas desperdiçado em um jogo cujos diálogos parecem ter sido escritos por uma inteligência artificial que assistiu a anime demais.
A trajetória de Fire Emblem parecia conspirar para que o sucessor de Three Houses fosse um avanço claro em todos os aspectos. Mas Engage está mais para um passo lateral, que melhora o combate e a parte técnica ao mesmo tempo que sacrifica a narrativa e os personagens, que foram as partes mais populares do jogo anterior.
O retorno de mecânicas como personagens secretos recrutáveis em combate remete a um período anterior de Fire Emblem, quando os elementos de jogo que cercavam o combate eram apenas um bônus. Mas é difícil dizer que Engage é um sucesso completo apenas por acertar em cheio no combate, já que foram precisamente extras como o aspecto de simulação de relacionamento que fizeram a franquia alcançar novos patamares em tempos recentes.
Você quer testar sua capacidade como estrategista militar? Fire Emblem Engage é pra você. Mas se, além disso, você também quiser se importar com os pobres soldados que você está comandando, talvez seja melhor ir pra outros cantos.