Review: Detective Pikachu Returns fica à sombra do antecessor
Ideal para crianças, sequência mantém charme, mas tem dificuldade em reter o interesse.
Detetive Pikachu e Tim Goodman estão de volta para uma aventura morna, mas que deve agradar um grupo específico de jogadores.
Sequência do título que chegou na sobrevida do 3DS, Detective Pikachu Returns mantém o charme e a simplicidade. Dessa forma, assim como o original, trata-se de um ótimo jogo de entrada para o público infantil.
Por outro lado, a aventura investigativa é menos instigante, o que compromete o gancho responsável por reter o interesse de jogadores mais experientes.
Ainda que esteja à sombra do antecessor, o jogo é uma boa pedida para os fãs de Pokémon, que ficarão satisfeitos com o aprofundamento do mundo e divertimento proporcionados pelos diálogos com os monstrinhos – com direito a referências ao filme da Warner Bros.
Café com leite
Quando chegou ao restante do mundo em 2018 – dois anos após o lançamento no Japão –, Detective Pikachu angariou fãs por oferecer uma aventura completamente diferente do que se viu em Pokémon até aquele momento.
Porém, o intuito da série nunca foi oferecer enigmas que desafiam o raciocínio do jogador. Isso continua verdade passados cinco anos, em que a Creatures Inc. não fez alterações à proposta guiada e simplificada da investigação.
Em Returns, na maioria dos casos você descobrirá as soluções para os mistérios antes da hora. As explicações são bastante didáticas, o avanço é linear e não há punições para erros. Apesar de serem condizentes com o intuito de levar Pikachu e Tim de um ponto ao outro na história, esses fatores deixarão os fãs de jogos investigativos com algo a desejar.
As sequências de ação com eventos de reação rápida (“quick time events”) retorno, servindo para quebrar a monotonia do gameplay. Contudo, assim como acontece com as deduções, não há penalização ao errar. Todo o arbitrarismo se une à câmera fixa e exploração limitada para criar uma experiência de detetive “café com leite”.
Aventura ao lado dos amigos
Visto que a investigação em si não é nada muito emocionante ou instigante, o melhor aspecto de Detective Pikachu Returns fica para a interação com os Pokémon.
A habilidade de Pikachu de dialogar com os monstrinhos garante interações adoráveis e hilárias. Os Pokémon ganham maior complexidade com os diferentes maneirismos de fala e perspectivas em relação aos incidentes que estão envolvidos.
Neste aspecto, foi interessante perceber um tema recorrente ao longo do jogo: o medo em relação aos humanos após o incidente R, abordado no jogo anterior. Há aqueles que preferem o isolamento do que ficar à mercê das intenções humanas.
Os trechos em que Pikachu conta com a ajuda de Growlithe, Darmanitan e outros também servem para criar laços com os amigos de aventura.
As diferentes habilidades dos monstrinhos são uma adição bem-vinda à série, visto que proporcionam dinamismo. O destaque fica para as sequências com Luxray, em que a habilidade de enxergar através das paredes vem acompanhada de gameplay furtivo.
Ainda sobre o universo de Pokémon, os fãs se divertirão com os acenos debochados do jogo ao filme estrelado por Ryan Reynolds. Assim como o Detetive Pikachu dos cinemas, o protagonista continua roubando a cena nos games – desta vez sem os bizarros flertes com mulheres humanas, ainda bem.
Onde o raio não acertou duas vezes
Por mais que mantenha a fórmula original e aprofunde os Pokémon, Detective Pikachu Returns tem uma nítida dificuldade: reter o interesse do jogador. Pilar do jogo, a história deixa a desejar, com um desenrolar massante que se estende por 18 horas de gameplay.
Há menos voltas e reviravoltas, a resolução do enredo deixa a desejar e, principalmente, o processo de dedução se tornou menos interativo.
Diferente do primeiro jogo, em que o caderno de Tim guardava diferentes puzzles interativos, agora os enigmas podem ser resolvidos de uma única forma: a escolha da resposta certa dentre uma seleção de possibilidades, a maioria nitidamente descartável.
Proporcionando recheio ao game, Returns conta com a adição de missões secundárias espalhadas pelos cenários, que se resumem a humanos ou Pokémon precisando de ajuda. Tristemente, elas se resumem a “fetch quests” (“missões de buscar”) bastante rasas e simples de serem resolvidas.
Outra questão difícil de se ignorar são os gráficos. Há uma nítida ausência de texturas que torna os cenários e personagens opacos e sem vida. A queda da taxa de quadros em animações de fundo é frequente, fortalecendo o ar “datado” do título. O Detective Pikachu original é um dos jogos mais bonitos do 3DS mas, tristemente, o mesmo não pode ser dito da sequência de Switch.
Quem deve jogar?
Tão linear quanto seu antecessor, Detective Pikachu Returns é mais uma aventura charmosa no mundo de Pokémon. Porém, aqueles que procuram um bom mistério encontrarão pouco aqui, visto que a experiência é pouco envolvente e não instiga múltiplas jogatinas.
No fim, o apelo do jogo é para um público bastante específico. O investimento é mais indicado para crianças que estão aprendendo a ler e jogar – mas, sabendo que o lançamento não chega com localização para português, esse propósito perde o sentido para o público brasileiro.
Além disso, para os fãs da franquia, o jogo de Switch reserva não apenas a conclusão da busca de Tim e Pikachu, como um olhar inusitado no universo de Pokémon.
Detective Pikachu Returns chega exclusivamente para Nintendo Switch nesta sexta-feira (6).
Hey, listen! Venha se inscrever no canal do The Enemy no YouTube. Siga também na Twitch, Twitter, Facebook e TikTok ou converse com o pessoal da redação no Discord.
Aliás, somos parceiros do BIG Festival, o principal evento de jogos da América Latina, que aproxima o público com o desenvolvedor de jogos. Vem saber mais!