Review: Mario & Luigi Brothership é homenagem ao original sem deixar de inovar
Com elementos nostálgicos, o título tem muita personalidade e uma história cativante
A saga dos irmãos mais famosos dos games estava em hiato desde 2017 quando o remake de Mario & Luigi Superstar Saga chegou ao Nintendo 3DS. Com o fechamento da AlphaDream, desenvolvedora responsável pela franquia, a produção de novos jogos se tornou incerta. Mas Mario & Luigi Brothership veio com tudo: uma história cativante que não apenas homenageia o original, mas mantém a essência e o encanto das aventuras dos dois encanadores.
A trama tem tudo a ver com conexões. Mario e Luigi são transportados para o mundo de Elétria. Antes, o local era um continente conectado pela Arbolux, mas se partiu em diversas ilhas. Lá, eles conhecem a Tetê, uma arboguarda que está tentando reconectar essas ilhas através de seus faróis, que precisam ser acesos para que a Unilux volte a fluir. E aqui é importante elogiar a localização do jogo para português, que vai além da simples tradução e adapta não só os termos, como também os trocadilhos que são um dos atrativos do jogo.
Usando a ilha Nauta como um barco, Mario e Luigi se aventuram por diversas correntes marítimas para encontrar as ilhas e os grandes faróis. Também é possível encontrar ilhotas menores que não se conectam à Arbolux, mas possuem alguns desafios opcionais, itens escondidos e moedas. Alguns recifes com formatos peculiares também podem ser encontrados e eles rendem recompensas bônus.
É impressionante como o jogo conseguiu, dentro de seu estilo, traduzir uma mecânica de velejar pelos mares e procurar terras. Usando sua carta náutica, você seleciona a correnteza que quer explorar e, com o telecanhão, você localiza ilhas e recifes e ainda consegue se arremessar para seu próximo destino. É possível também acelerar o barco para chegar mais rápido, graças ao esforço coletivo dos Toads, que abanam o barco com leques gigantes, um exemplo do tipo de humor inteligente que é pincelado ao longo da história.
A batalha em turnos, que é base para progressão, segue o formato de apertar botões no momento certo para causar mais dano, ou se defender e contra atacar. Você pode pular sobre os inimigos voadores ou usar martelos contra os que têm espinhos, ou ainda escolher algum Ataque Bro, que são os especiais que precisam dos dois irmãos e a precisão na hora de apertar os comandos também pode render danos massivos ao conseguir o combo perfeito.
Os bosses são trabalhosos, demorados e requerem algum nível de habilidade, que é o padrão da franquia, mas pode assustar um pouco os novos jogadores. Para os iniciantes, alguns recursos facilitadores podem ajudar: é possível usar a defesa de emergência caso não consiga desviar dos ataques do oponente e, caso perca para o boss duas vezes seguidas, é possível selecionar o modo fácil. Se continuar a perder, o modo “mamão com açúcar” aparece. No modo normal, o jogo pode ser, sim, bem desafiador, rendendo batalhas que podem durar uma hora. Já no modo fácil, o seu dano é aumentado e o dos inimigos diminuído, economizando algumas rodadas para usar itens de cura.
Porém, uma mecânica nova que adiciona um fator de estratégia e ajuda muito em combate são os plugues de batalha: tomadas que podem ser ligadas ou desligadas e dão efeitos especiais durante as lutas. O jogador tem uma quantidade limitada de plugues, e ela se expande à medida que a história avança. A estratégia é que combinações de plugues podem levar a diferentes efeitos, mas eles possuem uma carga e, após uma quantidade determinada de usos, eles descarregam e levam vários turnos para recarregar. Você pode fabricar os plugues coletando Lampalumes, que são bichinhos encontrados nas ilhas, e ir desbloqueando novos.
De modo geral, as batalhas de Brothership são dinâmicas. A gama de possibilidades entre Ataques Bros e Plugue de Batalha traz novos horizontes para o combate e deixa a fórmula da saga mais interessante. Durante os chefões, também é preciso usar a Luigideia, uma mecânica em que Luigi vê algo no cenário e tem uma ideia para nocautear o oponente com ajuda do Mario, amplificando o dano e trazendo mais diversidade para que as lutas não sejam maçantes e repetitivas.
A Luigideia também tem função fora das batalhas, e é assim que descobrimos as Ações Bros, que permitem resolver puzzles e atravessar barreiras para progredir na história. Aqui temos a volta do clássico helicóptero, chamado de Ovnicóptero, junto de outras novas como a Duobola, além de habilidades especiais de cada uma delas. Mas a participação de Luigi não se limita a suas ideias: é possível interagir com alguns objetos e cenários que necessitam ser operados em dois, fazendo com que o protagonismo seja realmente dividido entre os irmãos, apesar de Mario ser o personagem controlável.
O design de Elétria é genial. Como toda a temática desse universo gira em torno da Unilux, que nada mais é do que um tipo de energia elétrica, os personagens são baseados em fios, cabos, tomadas e conectores. A Tetê tem um chapéu com padrão de tomada japonês, mas sua mestra já segue o padrão de tomada norte-americano.
O Batalhão da Extensão, trio de capangas do antagonista, é uma mistura de elementos de cabos de antena, conectores de áudio e VGA. Já Ampério, o grande vilão da trama, é um alicate de corte, simbolizando a sua vontade de desfazer conexões. Um prato cheio para qualquer nerd de tecnologia passar horas caçando referências do design.
De modo geral, o jogo tem potencial para durar horas de diversão entre história principal, missões secundárias e alguns objetivos paralelos. No total, foram mais de 50 horas para esse review, com algumas poucas missões secundárias sendo deixadas de lado. É também possível pescar, fabricar itens na oficina, colecionar Recifes e Nabos Anciões, que sempre te presenteiam com piadas infames.
Não é necessário passar muitas horas upando, pois a quantidade de inimigos em cada uma das ilhas já é suficiente para que você esteja sempre no nível recomendado para as missões principais. Os objetivos secundários não são muito demorados, mas rendem itens importantes como os feijões, que aumentam atributos permanentemente, ou equipamentos com habilidades especiais, já que os encontrados nas lojas costumam ser mais básicos.
Brothership traz um frescor interessante para a saga Mario & Luigi, que é uma franquia na qual tenho muito carinho. O jogo consegue manter o humor inteligente, a dificuldade das batalhas e narrativa dinâmica, além de combinar elementos próprios do mundo de Elétria que dão uma personalidade única para o título. O Switch pode estar em seus momentos finais, com o seu sucessor já no horizonte, mas é legal ver que a Nintendo está mantendo o nível de seus jogos e dando um encerramento digno para um console tão marcante.