Review: Dragon Quest 3 Remake HD-2D recria RPG clássico com fórmula ideal

Nova versão equilibra nostalgia do jogo original com atualizações modernas

Por Bruno Silva 22.11.2024 18H43

O remake HD-2D de Dragon Quest 3 parece um teste, aquele tipo de isca que a Square Enix adora jogar para o público. Em todo remake, a discussão acaba sendo mais voltada para a forma do que o conteúdo, mas nesse caso, é quase impossível não abordar o jogo por esse prisma.

Pode parecer que eu estou desmerecendo esse clássico dos games, mas eu juro que não. Na verdade, é exatamente o contrário.

Falar sobre a qualidade de Dragon Quest 3 é chover no molhado. Esse jogo é a pedra fundamental do RPG japonês, e criou conceitos o suficiente para abrir caminho para o gênero por décadas. Toda uma classe de jogos, de Final Fantasy a Metaphor: ReFantazio, deve um pouquinho a esse trabalho de Yuji Horii, Akira Toriyama e equipe.

O que essa releitura parece colocar em jogo é justamente o formato do HD-2D, em que personagens pixelados transitam por belíssimos cenários 3D. Essa fórmula não é nova, e já foi usada pela própria Square Enix em RPGs como Octopath Traveler. Nesse contexto, Dragon Quest 3 parece ter sido selecionado a dedo como um modelo para replicar essa estrutura em outros títulos clássicos da empresa.

E olha? Não poderia ter outra escolha melhor.

Existe um motivo bem específico pelo qual Dragon Quest 3 é tão importante. Nessa aventura, em que você é um jovem encarregado de encerrar a missão deixada por seu pai e enfrentar o terrível demônio Baramos, você pode escolher quais personagens vão te acompanhar nessa jornada, quais classes eles terão e, principalmente, trocar as classes desses personagens no decorrer da história.

Essa função é super comum hoje em dia em um monte de RPGs. Em 1988, ela era revolucionária. E aqui, é responsável por dar a DQ3 um novo significado, porque você pode testar várias combinações diferentes de grupos, ou até mesmo misturar classes. O processo é meio arcaico se comparado com jogos mais recentes (é preciso subir até o nível 20 com a classe original e, após a troca, você retorna ao nível 1), mas ainda te dá o mesmo resultado, caso você queira inventar e fazer o seu mago ter uma defesa e ataque de guerreiro, por exemplo.

Essas possibilidades expandidas dão mais jeitos de curtir um jogo que traz sensações reconfortantes. Quando você joga Dragon Quest, dá para ter uma ideia do que esperar: um RPG de combate em turnos bem tradicional que vai te fazer viajar pelo mundo, coletar alguns itens aqui e ali, entrar em calabouços, travar muitas batalhas aleatórias pra subir de nível e derrotar chefes.

Divulgação/Square Enix

O que o remake faz de melhor é justamente deixar mais fácil essa experiência que hoje é considerada maçante. Dá pra acelerar batalhas, automatizar os comandos do grupo, curar todo mundo com apenas um botão, entre outras melhorias de qualidade de vida focadas em deixar mais tranquilo o grind, aquela prática de ficar lutando pra subir de nível que muita gente considera tediosa.

Se você não gosta de nenhuma dessas coisas, esse definitivamente não é o jogo para você, mesmo com todas as melhorias de qualidade de vida, que ajudam, mas não tiram a essência do que Dragon Quest 3 é: um RPG dos anos 1980 com ritmo bem mais lento do que os jogos de hoje em dia.

Mas se isso não é um problema, as portas se abrem para uma história clássica de heroísmo na qual sua participação como jogador pode até ser simples, mas guarda sua cota de surpresas, especialmente a partir da segunda metade. Quem acompanhou a campanha de marketing do jogo ou entrevistas dos desenvolvedores pode até ter uma ideia do que eu estou falando, mas vou guardar a surpresa.

Mas o mais legal de Dragon Quest 3 é que o jogo parece saber exatamente o momento em que precisa ter uma história mais convencional, e também sabe exatamente o momento em que precisa quebrar as expectativas. Isso é um negócio que eu já senti em outras experiências com a franquia, e suspeito ser um tipo de padrão que pode muito bem ter começado aqui.

Divulgação/Square Enix

Por último, mas não menos importante, eu realço a qualidade visual do remake HD-2D. Essa fórmula realmente traz um equilíbrio perfeito entre a sensação nostálgica de jogar um RPG feito no fim dos anos 1980 e a qualidade de visuais tridimensionais que dão uma profundidade e perspectiva aos mapas de uma forma que os jogos não tinham como fazer naquela época.

Ao passear por todas as vilas, cidades, torres, masmorras e florestas do jogo, fixa na cara o carinho que a equipe de desenvolvimento teve ao recriar todos esses cenários, respeitando a paixão de um jogo tão consagrado.

Se o remake HD-2D de Dragon Quest 3 era um teste, dá pra se dizer que ele foi concluído com sucesso. Se esse for o padrão que a Square Enix quer colocar em projetos como esse, não faltam jogos clássicos do catálogo para recriar. Mas o mais importante é justamente o que esse jogo traz: uma recriação visual que respeita e celebra o que há de melhor em um clássico dos RPGs.

 
Nota do crítico