Dúvido que você, durante essa longa pandemia de COVID-19, não tenha se rendido a fazer o download — mesmo que por curiosidade — do TikTok. O famoso aplicativo que ganhou força nos últimos dois anos entre praticamente todas as faixas etárias e, bom, qualquer pessoa.

Mas, para ajudar aqueles que não conhecem, o TikTok é uma plataforma e rede social de compartilhamento de vídeos da companhia chinesa ByteDance, voltado para a gravação de vídeos curtos e que permite dublagens de músicas, desafios e uma grande variedade de conteúdo para ser produzido.

O Brasil é uma das principais regiões do mundo no aplicativo em termos de visualizações, consumo de vídeos e criação de conteúdos sobre jogos. De acordo com o SensorTower, o TikTok alcançou quase 2 bilhões de downloads vitalícios na Apple Store e Google Play, tendo o Brasil como segundo maior mercado, com 9,7 milhões de downloads, perdendo apenas para o índice de 41,3% de downloads vindos da Índia, e isso apenas em fevereiro em 2020. Quase dois anos atrás.

Ecossistema Gaming

O ecossistema gaming do TikTok tem crescido cada vez mais pela plataforma oferecer oportunidades para que os jogadores, criadores de conteúdo, marcas e empresas possam estar conectados com sua comunidade e interagirem de forma ativa e interativa com eles.

O ‘começo’ desse crescimento pode se dar pelo anúncio da plataforma (em julho) em se tornar parceira do time “Fluxo” de Free Fire e ter nomeado Bruno “Nobru” Goes como seu primeiro embaixador global de games, criando a hashtag #OsCriasNoTikTok — que, em menos de um mês, acumulou mais de 134 milhões de visualizações na plataforma.

Depois disso, em agosto, o TikTok lançou o Gaming Hub, uma página dedicada às principais novidades de games na plataforma, apresentando os desafios, vídeos de criadores, criadores para seguir, calendário de lives de games e muito mais.

Também em agosto, a plataforma criou uma campanha para enaltecer a presença feminina no universo gamer, com a hashtag #EssaMinaÉDima, que foi veiculada em uma página criada na plataforma para a ação durante um período de tempo e fez bastante sucesso.

#Sucesso!

Mensalmente, eles lançam desafios globais e locais sobre diferentes temas do universo para promover a interação entre os usuários e estimular a comunidade gamer a postar conteúdos relacionados aos temas propostos pelos desafios. E os resultados impressionantes mostram o crescimento do setor no TikTok.

A hashtag #TropaDoBarulho lançada em parceria com a organização LOUD ultrapassou 148 milhões de visualizações, enquanto a hashtag #BoraJogar chegou a 634 milhões de visualizações no aplicativo.

Aliás, as hashtags são recursos importantes e populares na plataforma. As principais são:

• #minecraft - 15031 bilhões de visualizações
• #freefire - 315 bilhões de visualizações
• #fortnite - 192 bilhões de visualizações
• #pubg - 144 bilhões de visualizações
• #roblox - 103 bilhões de visualizações

Além disso, vale também reforçar que o TikTok tem promovido conteúdos focados em diversidade e inclusão nos games, assunto mega importante, como as lives em parceria com Avakin e iniciativas como o Esports - Diversidade e Inclusão, projeto liderado pelo jornalista Luiz Queiroga, e também transmissões de campeonatos femininos como o Grrrls League CSGO, GirlPwr Valorant e Spike Ladies Valorant.

Rede de apoio, amor & inclusão

E a plataforma também tem momentos importantes para a comunidade gamer, como, por exemplo, neste mês de setembro, em que um TikTok feito por uma mãe fez com que ela e um trabalhador de uma fábrica de ração para cães da Pensilvânia se unissem para criar um refúgio seguro para crianças com deficiência jogarem videogames online.

Linda Espada estava cansada de ter seu filho com necessidades especiais ignorado e, por isso, deu início ao movimento depois que um discurso seu no TikTok se tornou viral. O filho dela, de 13 anos, não conseguia ninguém para jogar videogame com ele.

Jacob tem paralisia cerebral, o que torna difícil para outros jogadores entendê-lo ao jogar o popular game battle-royale Fortnite, onde os jogadores se comunicam por chat de voz. Linda disse que Jacob tentava entrar no jogo, mas assim que os outros jogadores o ouviam falar, o expulsavam. 

No vídeo que se tornou viral, ela fala: “Se você ouvir que eles estejam falando um pouco mais alto, ou que a comunicação deles é mais confusa, dê uma chance a eles. Meu filho joga tão bem. Crianças com necessidades especiais são como todo mundo. Dê uma chance a eles”.

Bom, a partir da viralidade do vídeo, diversos jogadores, de todo país, entraram em ação para garantir que Jacob - e outras crianças e pessoas como ele - não fossem deixadas de fora.

Uma das pessoas que responderam o vídeo de Linda foi Tucker Fegley, um trabalhador de uma fábrica de rações para cães que nunca trabalhou com crianças com deficiência, mas que encontrou algumas de suas amizades mais próximas por meio da comunidade de jogos online.

“Você passa a vida inteira pensando que não tem um bom grupo de amigos, mas aí entra em um jogo e tem amigos sólidos”, disse ele.

Ele então se ofereceu para hospedar uma sessão de jogo para Jacob em sua Twitch. Espada anunciou o evento e Fegley recrutou amigos para moderar a transmissão e garantir que tudo ocorresse bem e a resposta foi avassaladora.

Fegley preparou um jogo para quatro pessoas, de modo que ele, Jacob e o irmão de Jacob pudessem jogar com um quarto companheiro de equipe que iria se revezar. A transmissão durou mais de 8 horas de jogo, cerca de 1.500 pessoas assistindo e centenas delas esperando sua vez para jogar com Jacob.

Jacob fez novos amigos com a experiência, criando laços em particular com Fegley e uma menina chamada Sammy. E as lives na Twitch tornaram-se eventos semanais, pelos quais ele espera ansiosamente. E sua mãe comentou que Jacob não fica mais olhando para o computador e se perguntando porque é a única pessoa com quem ninguém brinca.

É certamente uma virada de jogo para uma criança como Jacob e também uma inspiração para que mais ações como essa ocorram dentro do universo de games - e não apenas em plataformas como o TikTok.

Criadores de conteúdo

Desde que se tornou tão popular, o TikTok vem formando comunidades enormes em diversos nichos e a área de games é um dos maiores exemplos disso. Hoje temos criadores de conteúdo que abordam diversos nichos dentro da área e contribuem muito para o crescimento da comunidade na plataforma.

Um dos melhores exemplos disso é Pedro Caxa, atualmente o maior criador de conteúdo de games da plataforma aqui no Brasil. Pedro já conta com 1.7 milhões de seguidores na plataforma e um público fiel que acompanha o desenvolvimento de seu próprio jogo, Camp Wars e todo o processo por trás da área de desenvolvimento de jogos no Brasil.

Uma comunidade absolutamente engajada

A comunidade do TikTok, por ser do tamanho que é, é a mais diversificada possível. Uma comunidade extremamente engajada, principalmente aqui no Brasil, que pode mudar completamente o trabalho de quem tem a coragem de criar.

Além de ser muito engajada na plataforma em si, a comunidade do TikTok também acompanha o criador de conteúdo em outras redes sociais.

“Desde que eu comecei com o TikTok minhas outras redes sociais vem crescendo muito, mesmo eu não sendo tão engajado nessas redes como sou lá. A plataforma é uma ótima ferramenta para criar uma comunidade que vá além do TikTok se você lembrar o público de te seguir em seus outros canais”, disse Pedro em entrevista ao The Enemy.

Bruna “Ithuriana” Gabriela é uma das maiores criadoras de conteúdo de games do TikTok e tem uma história com a plataforma que mudou sua vida e abriu diversas portas para ela. “Eu diria que mais de 80% dos meus seguidores da Twitch me descobriram pelo TikTok ou alguma rede análoga. E eles são extremamente engajados em todas as plataformas: comentam, mandam mensagem, marcam em vídeos. É muito divertido!”, disse ela.

TikTok encontra Twitch e vice-versa

Muitos dos criadores de conteúdo gamer estão reunidos no Twitch, afinal, ela é uma das maiores plataformas de streaming de jogos do mundo. Para atrair mais seguidores para suas lives, os criadores estavam utilizando o TikTok como método de divulgação. 

Mas também aconteceu de criadores que começaram exclusivamente no TikTok encontrarem a plataforma de streaming e começarem a criar conteúdo por lá também.

Ithuriana contou ao The Enemy que, por causa do seu sucesso no TikTok, acabou criando uma conta na Twitch TV também. “É uma estratégia que eu vejo muitos dos outros criadores da plataforma adotarem. E realmente valeu a pena!”, disse ela.

Já Bruna Ungaretti, conhecida na plataforma como ‘Bruninha’, disse que sua maior motivação, quando criou o TikTok, era atrair um público para sua plataforma principal, que é a Twitch.

“Tanto que eu estudei bastante um nicho “novo” no TikTok Brasil, que criasse valor e curiosidade para as pessoas me buscarem em outras redes. Funcionou de certa forma, tive um crescimento na minha comunidade de forma orgânica, de pessoas que se interessam pelo meu conteúdo”, comentou.

Mas e o público? É só criança mesmo?

Um dos maiores mitos de hoje em dia é que ‘só tem criança no TikTok’. A plataforma tem um público extremamente abrangente e diversificado. A barreira psicológica que as pessoas tinham em relação ao TikTok - desde o começo da pandemia - vem cada vez mais sendo derrubada.

Entre os criadores de conteúdo, quem normalmente tem uma percepção mais consistente do real público, as opiniões se dividem.

“Quando eu comecei no Tiktok em 2019 praticamente todo o público era infantil e adolecente, mas depois do isolamento social isso mudou drasticamente, hoje vejo que meu conteúdo chega a todas as faixas etárias”, disse Pedro Caxa.

“Tanto que eu tendo a produzir conteúdos às vezes mais simples para o infantil e como meu conteúdo é sobre desenvolvimento de jogos faço vídeos mais complexos para esse público e o TikTok envia muito bem cada conteúdo para o seu públicos certo”, finalizou ele.

Já Bruninha acredita que o público mais ‘maduro’ ainda tenha receio de utilizar a plataforma de vídeos. “É um pouco difícil convencer as pessoas de que o algoritmo do TikTok trabalha de forma genial, ou seja, se você buscar conteúdo específico você vai ver muito sobre esse conteúdo, o TikTok é muito maior do que muita gente imagina, tem um infinito de assuntos e conteúdos variados”, disse.

“A influência que isso tem no meu trabalho é que apesar de todos serem bem vindos em minhas lives na Twitch, meu assunto é mais adulto, então uma porcentagem de pessoas que vem do TikTok não consegue acompanhar”, confessa ela.

Toxicidade Gamer

Uma comunidade grande infelizmente resulta em uma parcela de ódio gratuito, algo sempre presente em comunidades - principalmente de games. 

A entrega do conteúdo para uma grande massa de pessoas pode acabar afetando muito os criadores, tanto de maneira positiva quanto negativa, já que muitas vezes o anonimato da internet dá à algumas pessoas a ideia de uma terra sem lei e aqueles mais expostos à opinião alheia muitas vezes são afetados com isso. 

“O TikTok é a plataforma onde tive mais “hate” em toda a minha experiência de criação de conteúdo. Porém, apesar de ser a que tive mais “hate”, foi a que menos me afetou de forma pessoal”, comentou Bruna Ungaretti ao The Enemy, que lida bem com o ódio gratuito nas redes.

Por outro lado, também existem criadores de conteúdo que não tem tanto problema com isso. Daniel Hebling da Banda Dongo Dongo é um exemplo disso. “É muito raro termos problemas de toxicidade na sessão de comentários no nosso perfil. Acho fundamental deixar claro que é difícil eu falar por todos, pois não sei exatamente o quão "na minha bolha" estou” diz ele. 

“Já estou acostumado a incitar debates e discussões nos comentários, então tenho um público que está habituado a isso, e por lá, a maioria das respostas contribuem para a discussão ou no máximo fazem piadas bem tranquilas. Em geral, a galera que comenta nos meus vídeos é bem receptiva”, finaliza Daniel.

Mulheres no #TikTokGamer

As mulheres estão cada vez mais inseridas no mercado de games, seja na área de criação de conteúdo, desenvolvimento, liderança de projetos, entre diversas outras. 

No TikTok não poderia ser diferente e muitas mulheres têm um destaque enorme na plataforma. O nicho de games contém tanto um grupo imenso de mulheres como criadoras como no público também. Um exemplo disso é o próprio TikTok do The Enemy, que tem aproximadamente 47% de público feminino.

O público feminino e as mulheres como criadoras já são parte da plataforma, mas como é a reação do público em relação às mulheres? O sexismo é presente no TikTok assim como é em outras redes como Twitter e YouTube? 

O anonimato das redes sociais resulta no ataque direcionado à minorias e acaba sendo muito comum ver vídeos de respostas a comentários com assédios e até ameaças vindas do público. 

Quando o assunto é trazido à tona, principalmente por mulheres que trabalham com conteúdos de meios com um público muito masculino, como é o caso de games, a reação da galera nem sempre é a melhor. 

“Eu acho que a comunidade precisa amadurecer e se informar mais, até porque qualquer menção a esse tipo de tema é muito mal recebida, como um tabu, sendo que hoje em dia o público gamer feminino é enorme e isso é incontestável”, comentou Ithuriana, que já trouxe esse debate mais de uma vez ao público, que reage sempre de forma negativa e apenas rebatendo com argumentos vazios, ao invés de abrirem a cabeça. “É realmente uma questão desgastante quando abordada diretamente”, disse ela.

Vale abrir o debate de se essa é uma situação que vem melhorando com o passar do tempo. A pauta “mulheres nos games” já vem sido discutida há anos e já cansou vários ouvidos, mas deve ser trazida à mesa ainda, principalmente quando vivemos em um meio onde casos de abuso sexual e diversas injustiças com mulheres são mais do que frequentes.

Felizmente, devido principalmente ao trabalho de mulheres que botaram a cara a tapa quando tudo ainda era mato na cena games, o respeito (que é o básico) tem se tornado cada vez mais presente. 

Flávia Gasi, Nyvi Estephan e Bárbara Gutierrez são exemplos clássicos de mulheres que batalharam muito para que outras que estão começando agora seu trabalho com videogames tivessem o respeito que merecem. 

“É muito frequente ser ofendida, menosprezada ou subestimada por ser mulher no ramo de games, mas acredito que atualmente muito mais  pessoas se motivam com a nossa causa e levantam a bandeira juntos, fazendo ficar um pouco mais fácil de lidar com isso”, disse Bruninha, que mostra desde sempre lidar muito bem com o público. “Eu mesma fiz muitas amigas mulheres na internet, e nossa motivação foi essa, uma defender a outra”.

O espaço para mulheres nos games, seja no TikTok, no YouTube, na TV, nos estúdios de desenvolvimento ou em qualquer lugar, é de direito e merecimento delas. O apoio do público nessa causa sempre foi muito significativo para a luta, mas o apoio entre as mulheres que ajudam umas às outras a crescer, é o que podemos chamar de essencial.