Ninja Gaiden II

Game cheio de ação tem muito sangue, explosões e é ótimo "desestressante"

Por Fabio Bracht 07.07.2008 00H00
Tenho um amigo que sempre reclama da falta de jogos de "ação pura" hoje em dia. Games em que a sua única missão é se divertir. Sem muito texto, sem caixas para empurrar, enigmas para resolver e personagens para conversar. Apenas coisas para explodir, inimigos para trucidar ou um botão acelerador para apertar bem forte. Caso esse amigo já não estivesse jogando Ninja Gaiden II

Ninja Gaiden 2

Ninja Gaiden 2

Ninja Gaiden 2

Ninja Gaiden 2

alucinadamente, eu recomendaria o game com todas as forças, pois ação pura é o que não falta aqui.

Para os não iniciados, a série Ninja Gaiden (que é um dos maiores clássicos dos games, tendo se iniciado 1988, nos Arcades e no NES) é sobre Ryu Hayabusa, filho do lendário Joe Hayabusa e descendente da "Dragon Lineage", uma tradicional e mística família de ninjas. Em todos os jogos ele precisa enfrentar algum demônio ou coisa parecida que planeja destruir o mundo por algum motivo aleatório e sempre, sem exceções, segue à risca a "Cartilha do Vilão", que inclui regras como "Mesmo que você seja um demônio poderosíssimo, com um exército de criaturas do mal à sua disposição, e esteja tentando destruir o mundo junto de outros três demônios poderosíssimos, nunca faça um ataque surpresa em conjunto para detonar o herói. Sempre lute sozinho de modo que possa ser derrotado."

Se há mais uma coisa que pode ser dita sobre Ryu Hayabusa é o seguinte: em uma hipotética briga de soco entre ele e Chuck Norris, um certo ator sairia bem detonado. Ryu não é apenas badass, ele é capaz de correr sobre a superfície da água. A bordo de uma fortaleza voadora em queda, ele cata a mulher, sobe na moto e se joga. Ele fica de pé sobre o ponto mais alto do maior arranha-céu de uma Tóquio futurista, e depois de uma breve contemplação da cidade à sua volta, ele se joga e plana em direção à vidraça do imponente prédio vizinho, quebrando-a e prosseguindo com a sua invasão e quebra-pau.

Toda essa macheza, claro, se reflete na ação. Jogar Ninja Gaiden II resume-se a uma simples atividade: comece no ponto A e ande até o ponto B -- onde você enfrentará um chefão --, fatiando e desmembrando centenas de inimigos no processo. Para que o ato de fatiar e desmembrar não se torne repetitivo e cansativo, o Team Ninja (equipe de produção do jogo) criou uma grande variedade de armas. De espadas simples e duplas a lanças de prata, de arco-e-flecha a shurikens incendiários, de garras estilo Wolverine a foices ceifadoras semelhantes à da própria Morte, você tem milhares de opções para causar mortes horríveis a todos os insignificantes que cruzarem seu caminho. A minha arma favorita é o kusarigama, uma espécie de minifoice ligada por uma corrente a uma maça com espinhos enormes. Ryu lança a foice, segura pela corrente, puxa de volta, dá com a maça na testa dos inimigos, gira tudo ao seu redor e decepa várias cabeças no processo.

O mais legal é que o combate não é um apertar de botões desenfreado. Há de se usar um pouco de estratégia, esperando os inimigos atacarem para que você os pegue de guarda aberta ou no contra-ataque. Esquivas funcionam muito bem, e também rola um pouco de elemento estratégico na escolha da arma certa para cada ocasião. Inimigos que atacam em bando pedem uma arma de longo alcance, enquanto inimigos mais fortes e em menor número podem ser derrotados mais facilmente com uma arma mais potente e devastadora.

Outra característica marcante não só deste jogo, mas da série como um todo, é a enorme dificuldade que às vezes aparece de avançar. Embora Ninja Gaiden II tenha sido um pouco facilitado em relação ao jogo anterior (para Xbox, de 2004), muitas partes continuam dificílimas mesmo para os jogadores mais experientes. No início da aventura, os inimigos são todos ninjas e monstros com uma personalidade meio "muita-vontade-e-pouca-noção". Eles partem para cima mesmo, sem dó, e muitas vezes machucam, mas é só aprender a se defender e esquivar que você vai se dar bem. Mais adiante já começam a aparecer soldados armados, que atiram à distância com metralhadoras, depois shurikens explosivos e lança-mísseis. E eventualmente você vai até se deparar com gente usando mísseis anti-tanque! Contra esses você vai penar mesmo se estiver jogando no nível de dificuldade mais fácil (o game tem dois níveis no início, com outros dois ainda mais difíceis que podem ser desbloqueados).

Muitas vezes essa dificuldade é aumentada por fatores externos à programação dos inimigos. Às vezes é por pura malícia dos desenvolvedores (sacanagem do ano: depois de ralar um tempão para derrotar um chefe, o bicho, depois de morto, explode na minha cara e me leva junto!), mas geralmente a causa é o maior defeito do jogo: a câmera. Depois de me divertir com pérolas como Super Mario Galaxy ou God of War, pode-se começar a imaginar que todo jogo atual tem um sistema de câmera perfeito. O que não é verdade e a prova está aqui. Ninja Gaiden II tem gráficos estonteantes, mas eles infelizmente são mostrados por uma das piores câmeras já programadas em um jogo desse estilo. Nas partes de exploração ela sempre se mantém muito baixa, impedindo o jogador de ver muito à sua frente. Nas partes de luta ela focaliza muito mais o seu personagem do que os inimigos (talvez para valorizar a beleza do espetáculo sangrento que se tornam as batalhas). E, como se não bastasse, ainda insiste em ficar muito próxima. Isso quando não muda subitamente de ângulo após um golpe mais performático. Você fica perdido, desorientado, sem saber a posição dos inimigos à sua frente, e a única solução é atacar sem parar, na esperança de acertar algum incauto. É frustrante em diferentes níveis, do "ah, dá pra aturar" ao "PQP, não é justo eu morrer por causa da câmera!".

Mesmo com os problemas fica a recomendação: Ninja Gaiden II é indicadíssimo para quem quer um bom jogo de ação com muito sangue, explosões e testosterona. Sem contar que é um ótimo desestressante.

Fabio Bracht é editor do blog Continue.com.br