O jogo de tiro em primeira pessoa FarCry colocou a desenvolvedora Crytek no mapa - empresa que voltou a sacudir o mercado mais tarde com o impressionante Crysis. Assim, quando a Ubisoft anunciou que a continuação do game passaria às mãos de seu estúdio de desenvolvimento em Montreal, os fãs torceram o nariz.
farcry 2
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FarCry 2
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A empresa logo acalmou os ânimos mostrando diversos vídeos de demonstração do novo engine Dunia, capaz de excelentes efeitos de luz e atmosfera, ambientes interativos, ciclos em tempo real de noite e dia, inteligência artifical de inimigos e física avançada, incluindo a propagação de fogo. Aos poucos a seqüência foi mostrando-se promissora - e o resultado não decepcionou.
A premissa básica do game foi completamente alterada. O formato "jogo de tiro em primeira pessoa" (FPS) foi mantido, mas agora com a liberdade de ação dos games de mundo aberto, como Grand Theft Auto. São 50 quilômetros quadrados de cenário africano: um país fictício rasgado ao meio por uma guerra civil.
A campanha para um jogador, com no mínimo 30 horas de duração, começa com um mercenário chegando ao local para localizar e assassinar O Chacal, um comerciante de armas que aproveita-se da instabilidade na região para prosperar. O problema é que logo ao chegar ali, o jogador começa a sofrer os efeitos da malária que acaba de contrair. Manter a doença sob controle (que se manifesta através de vista turva e vibrações febris no controle), enquanto completa as missões que o levarão cada vez mais perto do traficante, é parte da diversão.
As missões são um tanto repetitivas. Sempre envolvem assassinar alguém ou destruir alguma coisa. Também, pudera... o personagem principal (há uma série deles para escolher no início, incluindo um paulista) é um mercenário, e isso é o que os mercenários fazem. Mas ao menos há diversas possibilidades diferentes de tipo de missão. Há as missões para destravar armamentos, as missões paralelas (como destruir postos de guarda), as de busca de medicamentos (para controlar a malária), as de procura pelas pastas de diamantes de sangue espalhadas pelo mapa, as de buscas das "fitas do Chacal", as missões de companheiros (personagens que auxiliam o jogador em momentos de perigo) e, claro, as missões narrativas, que caminham com a história.
A história, na verdade, é bastante rasa. Não empolga. É mesmo a riqueza de detalhes do cenário e os encontros hostis que tornam FarCry 2 indispensável para quem gosta de um bom "shooter". Dá pra ficar um bom tempo apenas observando as texturas, o terreno, a direção do vento (indispensável para um ataque com fogo) e montando sua estratégia para atacar uma vila inimiga. Planos que, no fundo, servem para muito pouco, já que os inimigos são imprevisíveis (fora um ou outro que enlouquecem e ficam meio suicidas, especialmente quando estão dirigindo) graças à boa inteligência artificial que os guia.
Igualmente empolgante é a abordagem realista dos armamentos. Diferente dos games de tiro do mercado, aqui as armas e veículos envelhecem com o uso. Apanhar equipamentos do chão - tática mais que batida do gênero -, aqui simplesmente é um risco. As metralhadoras e rifles gastos das milícias africanas travam e quebram o tempo todo pela ferrugem e péssima manutenção. Há também pouco suprimento de munição, o que exige certa cautela e a mudança frequente de armamento (creio que nunca usei tanto as pistolas como neste game). Assim, os combates são meio desesperados e têm uma urgência bastante distinta do usual.
Ferimentos também têm um diferencial interessante. Em FarCry 2 você precisa operar primeiros socorros em si mesmo (arrancar balas com alicate, queimar-se com o cano da arma, colocar um braço no lugar...) antes de injetar um coquetel energético nas veias para continuar.
Completa o pacote um módulo multiplayer para 16 jogadores. Apesar de normal e pouco inovador (Deathmatch, Team Deathmatch, Capture a Bandeira, o de sempre...), ele conta com um editor de mapas ótimo, que deve encher de boas fases as redes do Playstation 3, Xbox 360 e PCs, rendendo horas e horas de diversão além das pré-programadas no game.
Enfim, num mercado saturado de bons títulos que competem pelo seu suado dinheiro e tempo disponível para jogar, FarCry 2 é um game que merece uma visita pelo seu realismo e boas idéias.