Review: The Walking Dead: A New Frontier
Terceira temporada menospreza ideias originais pela repetição
A Telltale Games é um caso fascinante de se observar. O pequeno estúdio alcançou o reconhecimento mundial com o excelente The Walking Dead em 2012, se envolveu em inúmeros projetos logo em seguida e, agora, conseguiu saturar o mercado que praticamente comandava sozinha.
Sem dúvidas, muita coisa boa foi feita pela desenvolvedora. The Wolf Among Us e Tales from the Borderlands são alguns exemplos, mas erros recentes como o derivado The Walking Dead: Michonne e o desastroso Guardiões da Galáxia levantam algumas dúvidas sobre o futuro da empresa, principalmente quando eles anunciaram retomar seu jogo mais famoso em The Walking Dead: A New Frontier.
A terceira temporada da tão consagrada aventura interativa nos apresenta Javier Garcia, um homem forçado a criar a família do irmão, David, que desapareceu no meio do apocalipse zumbi. Os primeiros capítulos se focam nos desafios encontrados pelo grupo para sobreviver enquanto os últimos mostram a problemática relação entre os irmãos após o protagonista descobrir que David tornou-se o líder de uma facção chamada A Nova Fronteira.
Em meio à isso tudo, Javi encontra Clementine, fio condutor da franquia que deixou de ser uma garotinha indefesa para tornar-se uma sobrevivente fria. Vê-la novamente desperta a atenção do jogador e intriga mas, ao ritmo que sua história é desenvolvida, vemos como a menina é subaproveitada. Apesar dela estar presente a todo momento e ser parte de decisões de peso, é difícil apontar a presença de Clem como realmente vital ao desenrolar da jornada do protagonista - mesmo que você tome o controle dela em vários flashbacks cuja a única função são tapar os buracos do segundo ano e deixar um gancho válido para uma nova temporada.
Apesar de estar presente a todo momento, é presença de Clementine não é vital no desenrolar da jornada
Assim, o conflito entre irmãos é a trama mais interessante do game. Estar na pele de Javi significa tentar conciliar suas vontades com as exigências de David e dos demais membros da família. Dependendo de quem você escolhe direcionar sua atenção, é possível se sentir impotente por negligenciar suas vontades ou um verdadeiro traidor ao assumir o papel de patriarca de seus sobrinhos e envolver-se com sua cunhada.
Apesar da história se focar organicamente nessa disputa, a Telltale tomou algumas decisões no mínimo confusas: há um certo receio em caracterizar David como um antagonista ao jogador, mesmo que o personagem tome posições contrárias às suas em todas as oportunidades.
Para isso, foi criada uma vilã tirana aos moldes do Governador, que entra e sai da história sem o mínimo de desenvolvimento, mas que ainda consegue ser responsável por momentos centrais à trama e por ocupar preciosos minutos dos curtos episódios. É notável que o enredo quer colocar o jogador contra sua figura fraterna, com uma conturbada relação mostrada através de inúmeros flashbacks. Negligenciar isso cria uma sensação de confusão e, honestamente, tempo perdido, como se a produtora estivesse apenas enchendo linguiça para justificar a tradicional existência de cinco episódios.
Há um certo receio em caracterizar David como um antagonista
Além do mais, toda a subtrama cai nos mesmos clichês tão conhecidos da franquia: a comunidade aparentemente pacífica que é comandada por uma figura secretamente autoritária. Eles fazem coisas ruins mas justificam falando “que tem de ser feitas” pois assim funciona o mundo que vivem. Mesmo na saga de jogos essa história já está ficando cansada, e é investir na repetição que torna menosprezar o arco entre os irmãos ainda mais decepcionante.
Repetição é a palavra-chave para descrever o game, e a parte técnica não é diferente. Enquanto há uma melhora visível nas texturas e a introdução de efeitos cinematográficos como profundidade de campo, as animações mecânicas tornam-se mais incômodas a cada novo título da desenvolvedora. É fácil entender que tratava-se de uma limitação técnica em 2012 mas é injustificável a insistência em manter um motor gráfico datado e problemático após tanto tempo. Momentos dramáticos tem sua imersão quebrada rapidamente por rostos inexpressivos e bugs constantes.
É injustificável a insistência em manter um motor gráfico datado e problemático após tanto tempo
Com começo forte, A New Frontier consegue apresentar uma trama interessante com boas cenas de ação e momentos tensos, mas infelizmente não vai muito além disso. Suas ideias originais são subdesenvolvidas enquanto os mesmos erros dos jogos anteriores ganham os holofotes.
Salvo momentos de excelência, é possível ver um padrão de que a Telltale se revela um estúdio limitado tanto no desenvolvimento narrativo quanto na parte técnica. A não ser que vejamos uma reinvenção tão grande quanto a que lhe deu reconhecimento há alguns anos, a tendência é que as coisas só piorem daqui para frente.
The Walking Dead: A New Frontier está disponível para PlayStation 4, Xbox One, PC (Steam), iOS e Android. Testamos o game no PC. Clique nas plataformas para conferir o preço nas versões digitais.