The Surge | Crítica

Dark Souls saiu da Matrix

Por Maximilian Rox 19.05.2017 19H12

Explore. Lute. Avance. Morra.

Renasça. Aprenda. Melhore. Tente de volta.

Entrar em um game é estar disponível para os tipos mais diversos de diversões e frustrações. Alguns títulos se especializam em tornar esse caminho difícil para recompensar de diferentes formas, seja no sentimento de superação ou com equipamentos lendários para melhorar o personagem.

Jogar a série Dark Souls, por exemplo, é como parar na beira de um abismo negro e profundo com todas essas recompensas do outro lado. Mas o chão é escorregadio e um deslize te joga em cheio em um poço de pura discórdia, onde é possível descobrir quantos xingamentos e desculpas você conhece. A adrenalina de acertar em meio ao perigo é o que diverte os jogadores, e é esse o sentimento que continua 100% do tempo em The Surge.

Criado pelo mesmo estúdio de Lords of the Fallen, The Surge importa a série Souls para uma temática futurista. O mundo está sofrendo com problemas graves na atmosfera, e a empresa CREO é responsável por estabilizar a situação. No meio disso, você controla o tetraplégico Warren que, para andar novamente, se submete a uma operação duvidosa em troca dos seus serviços para a companhia.

É neste momento que a história esfria rapidamente. Você acorda no meio do nada, cercado de robôs e deve lutar pela sobrevivência. O seu destino é quase incerto, encontrando fitas e pessoas que contam qual a situação atual e sua missão nesse caos.

Diferente de Dark Souls, que não entrega nada e você descobre a trama por conta própria, The Surge lança questionamentos que são respondidos lentamente e com personagens sem muito aprofundamento, contrariando o início quente e cheio de intrigas.

A sequência, no entanto, se torna cada vez mais interessante para a ação. Você descobre a MedBay, uma espécie de cadeira cirúrgica que aumenta suas habilidades em troca de peças de metal. Ao lado, também vê formas de melhorar seus equipamentos e implantes, todos esses conquistados ao derrotar os inimigos.

 

O aspecto RPG não falha e traz muitas novidades e possibilidades ao jogador com isso. Implantes mudam atributos específicos do seu personagem, como a vida, o dano e as habilidades especiais ativáveis — como a cura que salvará sua vida em longas jornadas (olá, Estus Flask).

Apesar de conquistar essas melhorias com o tempo, elas permitem que você customize o seu personagem do jeito que você quer. Há itens e equipamentos diversos que permitem construir o seu estilo próprio de jogar, seja focado em armas de ataque rápido ou com lanças perfurantes lentas e poderosas.

O gameplay traz novidades estratégicas e pontuais para o combate. É possível mirar em locais específicos do oponente, aumentando o dano nos pontos fracos e facilitando a ativação das finalizações violentas de Warren. Outro bônus de dominar esse sistema é que ele aumenta a chance de conquistar itens e peças para forjar e melhorar seus equipamentos.

A exploração deve ser cuidadosa, visto que a inspiração em Dark Souls continua e os inimigos se escondem nos lugares que você menos espera. Mais do que isso: alguns são extremamente lentos enquanto outros são surpreendentemente rápidos. É preciso se adaptar constantemente e tomar cuidado para não perder tudo o que conquistou antes de deixar o checkpoint.

Há recompensas grandes pela exploração. Além dos itens espalhados pelo cenário que entregam melhorias, equipamentos e peças de metal, é possível descobrir atalhos que facilitam totalmente a sua trajetória. Uma das sensações mais agradáveis é abrir uma porta e ver que todo o jogo está conectado.

A dificuldade é flutuante, podendo incomodar o ritmo dos jogadores. Você segue tranquilamente por vários minutos até encontrar um chefe poderoso. Só que, ao contrário de tudo até agora, este desafio em especial leva dez tentativas até você entender quais são os pontos fracos do robô gigante que pula de um lado para o outro da arena.

Há outro aspecto frustrante nessas batalhas. A ação, que antes era mais lenta e sem mudanças drásticas de visão, se torna frenética e rápida. Mas, além de acompanhar todos os movimentos do inimigo, o jogador precisa frequentemente virar a câmera manualmente e reativar o sistema de mira.

Esse processo varia de acordo com o chefe, mas os poucos segundos sem ele de vista já são suficientes para tomar um ataque inesperado e perder muitos pontos de vida.

Em compensação, o design é muito bonito e planejado, trazendo inimigos com características únicas e detalhadas. Os itens e equipamentos, por sua vez, exploram sem medo o tom sci-fi apocalíptico do ambiente, que também está em ruínas. Afinal, The Surge reserva a criatividade das mecânicas de Dark Souls para se expandir com um universo mais rápido e com seu próprio fluxo de desafios.

Como um todo, o jogo incomoda em aspectos muito específicos, como no desenvolvimento dos personagens e no ritmo inicial de aprendizado. Por outro lado, há muito espaço para customização e exploração, permitindo recompensas agradáveis ao jogador que gosta de se dedicar a esses dois aspectos de um RPG de ação.

É como se você se sentasse frente a frente com Morpheus dentro do universo de Dark Souls. Ele oferece duas pílulas. Escolha a vermelha para sair da zona de conforto e enfrentar uma nova proposta em que as máquinas e os humanos estão constantemente em conflito. Este é The Surge. A azul, por outro lado, te mantém no universo Souls que você já tanto conhece e ama. A escolha é sua — mas, como você desconfia, a jornada não será nada fácil em nenhum dos casos.

The Surge está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC. O jogo foi testado em um PlayStation 4. Clique no nome das plataformas para conferir seu preço nas versões digitais.

Nota do crítico