South Park: The Stick of Truth | Crítica

Finalmente, uma adaptação que faz jus à série animada

Por Míriam Castro 04.03.2014 17H39

South Park estreou em 1997 e já teve cinco adaptações nos games. No entanto, nenhuma destas versões teve a participação dos criadores, Trey Parker e Matt Stone. Quando foi revelado que ambos escreveriam o roteiro de South Park: The Stick of Truth, da Obsidian Entertainment, surgiu a esperança de que a série finalmente teria um jogo à sua altura.

Depois da falência da publicadora original (THQ), o apadrinhamento do projeto pela Ubisoft e vários adiamentos, era bem possível que o resultado fosse frustrante. Felizmente, isso não aconteceu e a espera valeu a pena. The Stick of Truth é o primeiro jogo que faz jus à fama da série.

Cartman, Kyle, Stan e Kenny estão no game, mas o protagonista é um garoto mudo customizável pelo jogador. Não importa o nome escolhido, ele será apelidado de Babaca (depois, Sir Babaca). Ao longo do game, é possível mudar seu visual com equipamentos ou meras adições estéticas, como barbas, monóculos e até testículos no queixo.

Seu protagonista mudo chega a South Park em meio a uma guerra. Humanos e elfos brigam pela posse do Cajado da Verdade, um artefato que permite controlar o universo. Obviamente, isso não passa de uma grande brincadeira que envolve boa parte das crianças da cidade. As roupas dos personagens são improvisadas, assim como seus equipamentos. Além disso, os equipamentos custam poucos dólares, já que os pequenos conseguem arrancar dos pais apenas uns trocados.

Queijitos, tacos e nojo

O sistema de batalhas é por turnos, "como na Idade Média", de acordo com Cartman. Para atacar ou defender, é preciso ter ótimo timing e apertar os botões necessários no momento em que a arma brilhar. O jogador pode escolher entre as classes guerreiro, mago, ladrão ou judeu (sim, judeu). Demos mais detalhes sobre o básico das batalhas no artigo de primeiras impressões - confira.

Um novo sabor é dado aos confrontos sempre que habilidades e personagens inéditos aparecem. Para cada ataque, mudam os comandos. Um bardo, por exemplo, tem que apertar os botões de acordo com a melodia, no maior estilo Guitar Hero. A letra de uma das músicas de suporte é sobre as proezas sexuais da mãe do oponente.

Os itens de cura são alimentos do cotidiano, como salgadinhos Queijitos e tacos mexicanos. Eles são abundantes, já que o game incentiva seu uso a todo momento. Com nomes como "nojo" e "sangramento", as penalidades de batalha podem devastar sua equipe rapidamente. Felizmente, em todas as rodadas é possível usar um item ou habilidade de suporte antes de atacar.

A cidade de South Park, pela primeira vez oficialmente mapeada, é um bom exemplo de mundo aberto. Há setores que não são imediatamente acessíveis, mas podem ser desbloqueados com novas habilidades. Ao explorar as ruas, é possível interagir com vários cenários do desenho animado. Também há missões paralelas, como uma partida de esconde-esconde com as crianças mais novas e uma saga em busca de Chinpokomons colecionáveis.

Enquanto as crianças estão em seu passatempo, a cidade segue uma vida normal (tanto quanto algo poderia ser em South Park). Jesus se esconde de maneiras estranhas na igreja, a prefeita da cidade pede que o protagonista elimine todos os mendigos das ruas, Sr. Hankey perde seus filhos - a família é formada por cocôs antropomórficos, caso você não conheça a animação - no esgoto.

Estes são alguns exemplos de missões opcionais encontradas em The Stick of Truth. O absurdo é o que torna as tarefas do game tão interessantes. Explorar é uma diversão, pois cada gaveta está repleta de itens que fazem referência a episódios da série. Cabe mencionar a excelente tradução da versão brasileira. A exemplo do que foi feito em Grand Theft Auto V, palavrões não foram omitidos, evitando a descaracterização das piadas.

O game peca, às vezes, por se explicar demais. Um exemplo disso são os tutoriais de magia (que, na verdade, ensinam a controlar os gases), que repetem longos diálogos infinitamente caso o jogador erre. Por outro lado, em outras vezes não há qualquer explicação. Não há detalhes sobre as habilidades de seus companheiros de equipe ou como trocá-los, por exemplo. Cabe ao jogador descobrir por conta própria.

Esses pequenos defeitos não tiram de maneira alguma as qualidades do trabalho da Obsidian neste game. É incrível poder visitar o quarto de Cartman e ouvir o rádio tocar Kyle's Mom Is a Bitch, do filme lançado em 1999, percorrer uma nave alienígena e o interior do corpo de uma pessoa.

As piadas são capazes de fazer qualquer um rir, mas os fãs têm acesso a centenas de pequenas e grandes referências que apenas os criadores da animação poderiam inserir propriamente. É como se uma temporada inteira de South Park fosse construída de forma interativa. South Park: The Stick of Truth é um ótimo game para fãs de RPG, fãs do desenho animado ou qualquer um que queira dar boas risadas e se divertir.

South Park: The Stick of Truth tem versões para PlayStation 3, Xbox 360 e PC.

Nota do crítico