Review: Tekken 7
Lugar para resolver rixas familiares não é na televisão, mas sim na beira de um vulcão
Pode não parecer, mas o último jogo da série Tekken foi lançado para os consoles em 2013, com uma versão gratuita do mesmo focado em batalhas online. Se você não mora no Japão, precisou esperar até o dia 2 de junho de 2017 para colocar as mãos em Tekken 7, o mais novo trabalho de Katsuhiro Harada e sua equipe. Um trabalho primoroso, diga-se de passagem.
Originalmente, Tekken 7 estreou nos arcades japoneses em 2015, e ganhou uma atualização em 2016. O que estamos jogando em casa, em nossos PlayStation 4, nossos Xbox One e/ou nossos PCs, é justamente essa nova versão, com personagens, cenários e itens de personalização inéditos.
A espera parece ter valido a pena. Um modo história robusto dá as caras em Tekken 7 de forma um pouco diferente das versões anteriores. E olha que já tivemos até um modo sidescroller para contar a trama de um dos jogos. Cutscenes muito bonitas, uma certa interação com o jogador em momentos singulares (nada muito glamuroso, mas cumpre o seu papel) e muita treta familiar.
Tekken 7 acertou em cheio na preocupação que poucos jogos apresentam na hora de criar uma certa narrativa durante as batalhas. Isso era muito comum desde a época da SNK, passando por uma atualização em jogos como Blazblue e Street Fighter IV. Só que, muitas vezes, essas conversas especiais passavam despercebidas no meio do combate frenético, e é aí que T7 brilha como nunca. O preciosismo em criar mini-cutscenes em tempo real (com uma troca de ângulo, uma câmera lenta e uma fala específica) dando foco à personalidade do lutador faz toda a diferença. Uma coisa boba, mas que funcionou com louvor.
Uma história sem mocinhos
O final do confronto entre Kazuya e Heihachi Mishima é o foco da história. Isso em meio a transformação da Mishima Zaibatsu num pequeno país e uma guerra mundial instaurada por Jin Kazama durante Tekken 6, um simples pretexto para que o mesmo pudesse evocar e derrotar uma criatura mitológica chamada Azazel. A luta teve um final feliz, mas a que preço?
Nos modos de luta, o básico
O preciosismo em criar mini-cutscenes que dão foco à personalidade do lutador faz toda a diferença
Inconsciente, Jin Kazama ainda não teve a real noção do que aprontou. Desaparecido, Jin serve como elo para os membros da família Mishima que não tiveram a chance de aparecer direito na campanha atual: o filho adotivo Lee Chaolan e o filho bastardo Lars Alexander. Alisa e Nina Williams também fazem suas aparições, mas é só, pois o foco real da trama é essa rixa familiar que já existe há mais de 20 anos.
Os novos personagens
O ponto alto da trama é a apresentação de Kazumi Mishima, a esposa falecida de Heihachi. Sua introdução na história explica finalmente as origens do Devil Gene da família Mishima. Kasumi luta acompanhada de um tigre e possui uma ligação misteriosa com Akuma, de Street Fighter, que para sanar sua dívida com a falecida, decidiu enfrentar Heihachi e Kazuya em um duelo mortal, tudo muito bem documentado durante a campanha.
A coisa mais legal da história de Tekken é que se você está procurando por um mocinho, ele não existe. Temos sim, protagonistas específicos, mas nenhum deles carrega o estereótipo de campeão da justiça. Isso pode atrapalhar o entendimento dos seus sentimentos, no caso a escolha para quem torcer no final. Claro que depois acostumamos, daí é só diversão.
E fazia tempo que um chefe final não dava tanto trabalho num jogo de luta. Desta vez, tem duas batalhas que valem alguns minutos da sua atenção (ou horas, como aconteceu comigo). Prepare-se.
Em relação a modos de jogo, Tekken 7 entrega o básico, o feijão com arroz dos jogos de luta. Um modo arcade simples, praticamente o mesmo visto na versão dos fliperamas, treinamento, versus offline e a Batalha por Tesouro, que serve para adquirir itens de personalização para cada um dos personagens do jogo.
O modo online (até a entrega deste texto pelo menos) está com alguns problemas de conexão quando o matchmaking é utilizado. No entanto, convidar jogadores para uma série de partidas livres funciona tranquilamente. Engraçado que de acordo com o placar de líderes, o jogo consegue entregar uma experiência online funcional, com jogadores no seu topo ostentando mais de 200 partidas ranqueadas. Além do “problema”, pode ser que Tekken 7 não tenha uma quantidade muito grande de jogadores brasileiros que participem das disputas oficiais.
Além das batalhas ranqueadas temos uma disputa de torneio valendo premiação em Fight Money (o mesmo nome do dinheiro-fantasia de Street Fighter V), e a partida com jogador, sem valer pontos no ranking.
Impossível não notar a falta que o replay faz ao game. Poder salvar suas partidas online e até assistir a jogadores mais experientes, algo que já se fez meio como uma obrigação aos jogos de luta, não se faz presente (por enquanto) em Tekken 7. Mas é bem capaz que uma atualização futura resolva isso.
Fazia tempo que um chefe não dava tanto trabalho em um jogo de luta. Prepare-se
Óbvio que uma coisa não justifica a outra, mas se por um lado não temos um modo replay, desta vez encontramos uma galeria histórica para a franquia. Cutscenes, ilustrações e a trilha sonora de TODOS os Tekken já lançados, ao alcance do seu botão. Utilizando o Fight Money, é possível adquirir todas as aberturas e encerramentos dos jogos da franquia já lançados até hoje, tudo alocado numa galeria especial e muito cuidadosa com o seu produto. Tem até as sequências animadas dos pachinkos japoneses. Só faltou mesmo o anime e os filmes live-action no pacote.
O elenco de lutadores até o momento soma 37 personagens, cada um com seu estilo de luta característico. Espaço na tela de seleção tem para mais uns seis personagens, mas nada anunciado oficialmente, claro. Os destaques ficam para os inéditos Katarina Alves (a brasileira inspirada pela beleza local de São Paulo, segundo o próprio Harada), Claudio Serafino (exorcista italiano), Lucky Cloe (uma Idol otaku), Shaheen (Arábia Saudita), Josie Rizal (filipina praticante de Eskrima e Kickboxing), Gigas (protótipo de soldado que deve substituir os Jack-7), Jack-7 (novo modelo, mesmo personagem), Master Ravel (uma kunoichi da mesma organização de Raven), Kasumi Mishima (falecida esposa de Heihachi) e Akuma, de Street Fighter.
Aliás: a parte boa de jogar com Akuma é que ele basicamente é o mesmo personagem de Street Fighter IV (ou SUPER). É um pouco mais “pesado” que sua versão Capcom, mas entrega basicamente quase tudo que é possível de se fazer em SF e mais um pouco. Mas não pense que tudo será alegria utilizando o lutador em partidas de Tekken 7, pois o mesmo precisa obedecer as regras do jogo da Bandai Namco, e um jogador de Tekken experiente consegue facilmente lidar com qualquer projétil arremessado contra ele.
Tekken 7 é uma excelente porta de entrada a todos os curiosos que desejam experimentar um pouco dos combates malabaristas da franquia dirigida por Katsuhiro Harada. Ele é bastante leniente com seus comandos e, apesar de não contar com nenhum tipo de tutorial mais específico, deixa o jogador bem à vontade para aprender com a mão na massa. Mantenha-se focado no que é importante - vencer seu adversário - e deixe os combos mais longos e elaborados para um outro momento do seu aprendizado. Assim você irá mais longe.
Tekken 7 está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC (Steam, Nuuvem). Testamos o jogo no PlayStation 4. Clique no nome das plataformas para conferir o preço em versões digitais.