Mass Effect 3 | Crítica

Final incoerente para a maior saga de ficção científica da década

Por Érico Borgo 28.03.2012 17H04

A ficção científica é um dos gêneros da arte que melhor trabalha temas considerados tabus, ou que expõe, através de uma cobertura fantástica, os problemas da sociedade contemporânea e o impacto dos avanços da ciência. Da literatura, a sci-fi migrou para os cinemas, quadrinhos depois para a televisão e aos videogames.

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Com uma produção maciça e extremamente variada em qualidade, o gênero tem obras que estão entre as maiores no imaginário pop, sendo que as melhores vão fundo na criação de universos plausíveis, algo essencial dentro das suas próprias intenções. Star Wars, Star Trek, a Trilogia de Rama, 2001 - Uma Odisséia no Espaço, Blade Runner, Matrix, Eu Robô... são exemplos de criações bem-sucedidas nesse intento.

Mass Effect, trilogia de jogos criada pela BioWare, é o maior representante da ficção científica da década. A série contém tudo o que torna a ficção científica relevante - mitologia complexa e discussões sobre moral e filosofia. Sem esquecer, obviamente, seu valor como entretenimento: a ação e a exploração estão entre as melhores dos jogos eletrônicos recentes, tornando a experiência de jogo quase irretocável.

O terceiro game, Mass Effect 3, é fantástico, uma mistura equilibrada de RPG e jogo de tiro com cobertura. O lado "role playing" do título traz árvores de diálogo elaboradas que fluem naturalmente ao serem interpretadas pelos atores que vivem os personagens (gente do calibre de Martin Sheen) e missões paralelas e principais empolgantes, além de extensas opções de upgrades de personagens, armas e configurações de poderes e armaduras. Tudo isso é imediatamente sentido no combate, que responde à menor mudança em ambientes que nunca parecem repetitivos e buscam frequentemente surpresas no uso da jogabilidade.

O fecho da trilogia seria um triunfo da BioWare, que conseguiu ao longo de cinco anos entregar uma experiência riquíssima, complexa e dramática em termos narrativos e fantástica de jogar. Especialmente considerando a escala épica da antecipação pelo desfecho: ao longo de aproximadamente 30 horas, o Comandante Shepard precisa reencontrar antigos inimigos e aliados, buscando unir a galáxia em prol do embate derradeiro contra a ameaça dos Reapers, uma avançada e poderosíssima horda que singra o espaço a cada 50 mil anos para reestabelecer o balanço de poder do universo, eliminando civilizações inteiras. A sensação é de imersão total, já que cada decisão conta no esforço de guerra.

O peso da responsabilidade acompanha o jogador, desejoso de fazer o seu melhor em prol da salvação da humanidade, aí chega-se ao campo de batalha Terra - onde o drama é o tom e efetivamente pode-se ver o resultado do esforço de horas (o único problema no combate é ter que engolir que Shepard selecionaria apenas dois aliados entre cinco possíveis para acompanhá-lo em uma batalha maciça). Chega então o esperado desfecho, os minutos finais, em que a empresa parece ter esquecido os pilares fundamentais sobre os quais construiu seu universo - e tudo desmorona.

Quase uma centena de horas de jogo (se você realizou os três Mass Effect na íntegra) é reduzida então a uma escolha entre três míseras opções, que liberam algumas possibilidades de final cada, todas praticamente idênticas, com pequenas variações de paleta de cores. Não é por acaso que dezenas de milhares de jogadores estão se sentindo enganados pela BioWare. Ninguém é inocente e esperava um final personalizado, só seu, mas imaginava-se que tamanho volume de dados, criado ao longo de horas de jogo especificamente e individualmente pelos jogadores, fosse aproveitado de maneira mais elegante, dentro do padrão que a própria BioWare estabeleceu. Ao realizar o final que realizou, a empresa não foi melhor que a produtora que lança títulos medianos que são esquecidos na semana em que chegam às lojas.

O final de Mass Effect 3 é barato e nada coerente com a qualidade do game até então. Rouba dos jogadores a oportunidade de encerrar a épica trilogia como ela deveria ser terminada. Indigno do legado da série e incoerente com vários dos temas apresentados no próprio jogo. Porém, especialmente se você não for um fã de longa data da franquia e este for seu primeiro encontro com Shepard e cia., o anticlimático desfecho (pseudo-poético e doido por justificar downloads pagos futuros) não consegue apagar a qualidade da que, independente do tropeço feio ao final, continua sendo a maior saga da ficção científica da década. Matrix fez bem pior, Star Trek oscilou durante décadas em qualidade nos cinemas e George Lucas esculhambou mistérios da mitologia Star Wars com nada menos do que uma trilogia inteira de qualidade duvidosa...

Mass Effect 3 | Segunda opinião

Por Flávia Gasi

Recentemente voltei a jogar o primeiro game da trilogia Mass Effect e devo dizer que fui surpreendida com o avanço técnico, em todos os aspectos, com apenas cinco anos de diferença entre o lançamento do game original e de Mass Effect 3. O jogo que encerra a história de Shepard é melhor em todos os sentidos, a começar pelas texturas da pele humana, quase que deixadas de lado para a criação de todas as raças alienígenas no primeiro, e são totalmente verossímeis no terceiro.

Isso sem contar que certos efeitos, como blur ao virar a câmera, eram necessários para disfarçar pequenos problemas, e estes somem completamente no novo título. A movimentação está melhor, o sistema de mira evoluiu, os cenários se tornaram mais abundantes e detalhados. Concordo, também, com a opinião do Érico de que Mass Effect 3 realiza com sucesso a passagem da linha tênue entre jogo de tiro e RPG, sem deixar que nenhuma das partes seja prejudicada.

Há um senso de escala épica em todos os detalhes do jogo, como sonoplastia, atuação dos personagens e missões. Mas nem tudo é irretocável. A parcela dentro da coletividade dos Geth, por exemplo, tem ótima premissa, mas é simplesmente chata demais de jogar.

A questão mais polêmica é certamente o final. Foram prometidos pela BioWare finais completamente diferentes, em que todas as suas escolhas até então seriam levadas em conta. Eu acredito que o final tem pelo menos um grande acerto, mas para dizer qual é, eu teria que contar um spoiler enorme. Porém, ainda falta um término genuíno. Isto é, quando  o jogo acabou, eu tinha uma bela teoria sobre o que houve, mas nada mais do que um achismo. Será interessante ver o que a empresa fará com isso e com as manifestações dos fãs: um DLC gratuito que explique de verdade o final seria perfeito, no meu ponto de vista.

Mass Effect 3 | Vídeos OmeleTV

Maratona Mass Effect 3 - Parte 1

Maratona Mass Effect 3 - Parte 2

O final de Mass Effect 3

Entrevista com o designer Rafael Grassetti

Nota do crítico