Deadpool | Crítica

Piadas e lutas que divertem por pouco tempo

Por Thiago Romariz 30.06.2013 14H00

Deadpool é um dos mais queridos personagens da Marvel. Nem mesmo a desastrosa aparição em X-Men: Origens - Wolverine diminuiu tal adoração. Desbocado e escatológico, o anti-herói ganhou espaço na mídia nos últimos anos e agora tem um game próprio, feito pela High Moon Studios (Transformers: Fall of Cybertron). As principais características dele estão lá: falatório incessante, inúmeras armas, violência caricata e um ego tão majestoso que acaba por atrapalhar a própria narrativa.

deadpool

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Deadpool, assim como Wolverine, é um filho do Projeto X, que deu a algumas pessoas normais poderes mutantes. No caso de Wade Wilson, antigo nome dele, o fator de cura veio junto com uma demência mental. Em contra partida às habilidades que ganhou, Wilson ficou completamente desfigurado, sendo obrigando a usar uma roupa que escondesse todo o corpo. No jogo, essa história é resumida a uma rápida sequência de imagens. Não há o interesse de explorar qualquer traço de personalidade, passado ou questionamentos do protagonista. A proposta é simplesmente rir dos próprios problemas e fazer piada com os estereótipos de quadrinhos e games.

Depois de um tutorial simplório, o jogador é apresentado a história: Deadpool quer fazer um jogo baseado em suas aventuras e habilidades; mais um produto para complementar a sua mania de grandeza. Escolha, em parte, acertada da High Moon - os melhores momentos do jogo estão, de fato, nas piadas proferidas pelo protagonista. O principal problema reside na existência única desta virtude, o que acaba levando o jogo a explorá-la sem parar.

Por mais divertido que seja acompanhar os cômicos diálogos entre Deadpool e os outros personagens da Marvel que surgem na história (Wolverine, Psylocke, Cable, Vampira e Sinistro), em dado momento tudo se torna enfadonho. Nem mesmo a incrível dublagem de Nolan North (Uncharted, Assassin’s Creed e Last of Us) deixa a insistência tolerável - ainda mais por grande parte das falas possuírem um teor sexista e preconceituoso, ainda que o contexto seja um tanto quanto desleixado.

Além da repetição de gags, há uma pobreza evidente em relação a construção de fases - todas elas seguem o mesmo padrão lógico, a não ser por raras incursões em segunda pessoa ou sidescroll. Essa regra também se aplica aos modelos de personagens: a não ser Deadpool, o restante dos inimigos e até outras crias da Marvel, possuem um visual genérico e construído com pouco cuidado. Basta notar, por exemplo, as paredes e objetos com padrão artístico idêntico em diferentes pontos do jogo.

Para fãs, no máximo

Boa parte dos defeitos gráficos e narrativos poderiam ser suplantados por controles sólidos - já que este jogo é, essencialmente, um hack’n’slash. Não é o que acontece em Deadpool: The Game. Apesar de oferecer algumas armas brancas e de fogo, o game não escapa do simples esmaga botão e apresenta um sistema de combos e evolução furado - não é preciso sequer usar as pistolas, por exemplo. Algumas repetições nos botões de espadas resolvem o jogo inteiro.

O sistema de combate tenta se inspirar em Batman: Arkham Asylum, assim como todos os outros jogos de ação, mas não consegue arranhar a superfície da proposta da Rocksteady. Uma boa inclusão, que poderia ter sido mais explorada, é o teleporte - algo como o que Noturno faz em X-Men. Infelizmente, assim como as piadas, qualquer luta perde a graça pela repetição e a falta de estratégia. Há ainda o fator de cura que praticamente impede que a dificuldade, ao menos no modo normal, progrida no decorrer do jogo.

Para os jogadores mais ligados ao personagem e menos às mecânicas, Deadpool: The Game pode garantir alguma diversão. Os diálogos e a capacidade de rir de si valem para quem domina inglês e conhece algo dos outros personagens com quem o mercenário dialoga. Por outro lado, para quem esperava uma ação de qualidade e o mínimo de solidez nos combates, a decepção chega em questão de minutos.

Nota do crítico