15.33: o P.C.C. (15a. letra do alfabeto, 3a. e 3a.) |
Em Carandiru, filme de Hector Babenco, acompanhamos o cotidiano de prisioneiros como Deusdete, Sem Chance, Seu Chico, Ezequiel e Lady Di, conforme descritos pelo médico local, o Dr. Drauzio Varella no livro Estação Carandiru. Hoje, as casas de detenção do Carandiru não existem mais. Em seu lugar está sendo criado um local de lazer para toda a família, o Parque da Juventude.
Quando finalizado, o Parque da Juventude terá uma área total de 450 mil m2. A Casa de Detenção representava apenas uma pequena parte (88 mil m2), mas era o suficiente para atrapalhar a vida de todos que viviam na região.
O projeto foi divido em três fases de desenvolvimento, com divisões físicas claras e usos diferenciados: Parque Esportivo, Parque Central e Parque Institucional. A primeira área, como o próprio nome já diz, será dedicada à prática desportiva, equipada com dez quadras, pista de skate, vestiários e lanchonete. A segunda será a mais arborizara (contando inclusive com o Bosque das Tipuanas) e vai utilizar parte da estrutura já existente no local, como a muralha remanescente do que seria uma nova Casa de Detenção - o Carandiru 2. E a última parte concentra atividades educacionais, culturais e recreativas. Além da construção palco reversível para apresentações ao ar livre, o Parque Institucional utilizará alguns edifícios da extinta Casa de Detenção. O Pavilhão 2 vai virar Centro de Cultura, o Pavilhão 4 será o Centro de Inclusão Digital, o Pavilhão 05 abrigará o Centro do Terceiro Setor e o Pavilhão 7 se tornará o Centro Paula Souza - FATEC.
Vai ser difícil comparar o local construído com a área que, em outros dias, abrigou mais de 8 mil pessoas. Mas o que foi que levou o Governo do Estado de São Paulo a construir um parque num local onde até pouco tempo estavam presos alguns dos mais importantes criminosos do país, a maternidade onde nasceu o temido P.C.C.? O motivo mais óbvio é que a área é muito boa, central e perto de um ótimo meio de transporte, o metrô. Entre as razões secundárias estão a inviabilidade de manter presídios tão grandes que, como foi provado, são mais difíceis de se controlar e, principalmente, porque é preciso tentar apagar da memória das pessoas a morte daqueles 111 presos que sucumbiram naquele dia 2 de outubro de 1992.
Um pouco da história
Inaugurada em 1956 pelo então governador Jânio Quadros, a Casa de Detenção de São Paulo foi projetada para abrigar 3,25 mil presos. Depois disso, sofreu reformas e sua capacidade máxima passou a ser 6,3 mil detentos. Desde 1975, ela deixou de cumprir o seu objetivo inicial, que era apenas de abrigar as pessoas à espera de julgamento. A população da Casa de Detenção chegou perto de 7 mil, mas teve picos de superlotação de 8 mil presos. Ao longo de seus 46 anos, o presídio se tornou o maior da América Latina. No início da década de 90, chegou a ser iniciada a construção do Carandiru 2, que abrigaria mais 3 mil detentos.
Desde que foi aprovado o projeto de construção do Parque da Juventude, os presos começaram a ser transferidos para presídios menores no interior do Estado. Os últimos detentos saíram do Carandiru no dia 15 de setembro. Os pavilhões 6, 8 e 9 foram implodidos no dia 8 de dezembro, num evento puramente político que reuniu o Governador do Estado e o Ministro da Justiça.
E o filme?
O primeiro pavilhão a ser totalmente evacuado foi o de número 2, que apesar de ser menor e em formato diferente foi usado no filme para ambientar o famoso Pavilhão 9. O restante das cenas foi gravado em estúdio, no Vera Cruz, em São Bernardo do Campo, cidade vizinha a São Paulo.
Para fazer Carandiru chegar ao seu cinema preferido hoje foram gastos 12,5 milhões de reais apenas na produção, o maior orçamento da história do cinema brasileiro. E segundo notícia do jornal Folha de São Paulo, a Columbia Pictures está investindo outros 3,2 milhões de reais na divulgação (cartazes, trailers, viagens de promoção) - o habitual é investir não mais do que 500 mil em filmes nacionais.
Parece muito dinheiro, né? E é... para o cinema brasileiro. Mas não é nada comparado aos 18 milhões de reais que a Casa de Detenção consumia por ano apenas em água e energia elétrica, ou aos 150 milhões de reais que devem ser gastos para transformar a área no Parque da Juventude. Mas os custos mais altos, tanto do filme quanto do futuro parque, ninguém nunca vai poder pagar: a vida das pessoas que ali morreram.