O que esperar de Rainbow Six Siege em 2019

2018 consolidou o cenário competitivo da modalidade e consagrou o Brasil, mas o que vem por aí?

Por Rafael Romer 31.12.2018 11H00

A Ubisoft tem motivos de sobra para comemorar neste final de 2018: Far Cry 5 foi bem-recebido e trouxe algumas novidades bem-vindas para a série; Assassin's Creed Odyssey deu sequência às ótimas mudanças que Origins introduziu à franquia; e títulos como Skull & Bones e Beyond Good and Evil 2 seguem deixando jogadores ansiosos pelo futuro da produtora.

Mas a maior das celebrações talvez venha de outra frente: dos eSports. Em uma trajetória de ascensão, Rainbow Six Siege deu sequência à sua história de sucesso e pavimentou um caminho ainda mais seguro na disputa pelo engajamento de jogadores e pela da audiência de espectadores com seu circuito competitivo em 2019. 

Para quem gosta de números, duas métricas mostram esse momento positivo. A primeira é a audiência da primeira edição do Six Major, que atraiu 8 milhões de espectadores únicos ao longo de seus seis dias de transmissão, diretamente de Paris, na França. Já a segunda é a base de jogadores do game, que já ultrapassou a marca dos 40 milhões, segundo dados revelados pela Ubisoft em outubro.

O resultado é ainda mais impressionante se lembrarmos do começo turbulento do jogo: lançado em 2015, Rainbow Six Siege foi criticado por jogadores nos seus primeiros meses, principalmente por conta de seu sistema de progressão e matchmaking. A Ubisoft, no entanto, ouviu a comunidade e fez a lição de casa, fazendo valer a ideia de que Rainbow Six seria um “jogo como serviço” – lançando atualização após atualização, com novos conteúdos, melhorias de gameplay e patches para consertar problemas.

A estratégia também se manteve constante ao longo dos anos, mesmo em momentos em que a publisher e o jogo foram duramente criticados por sua base de jogadores.

O exemplo mais recente dessa atitude pró-comunidade veio em novembro, quando a Ubisoft gerou polêmica quando anunciou que removeria algumas imagens do jogo que faziam referência à violência, jogos de azar e sexo para prepará-lo para uma expansão em países asiático. Duas semanas após o anúncio, a empresa voltou atrás da decisão após inúmeras reclamações de jogadores de fora da Ásia que se sentiram prejudicados pela mudança.

O mesmo vale para o sitema de banimento automático durante partidas por conta de propagação de discurso de ódio dentro do jogo: apesar de ser uma ferramenta importante para combate ao comportamento tóxico de jogadores, o sistema, implementado em julho, foi revisto em novembro após feedback de jogadores, que apontaram que ele penalizava também quem não engajava nesse tipo de comportamento.

A consequência disso é que o título conseguiu não só crescer sua base de jogadores, mas fidelizá-la ao longo dos anos, já que jogadores viam os resultados concretos de seus pedidos à Ubisoft, temporada após temporada. O pico histórico de jogadores simultâneos do game na Steam, de 176 mil pessoas, por exemplo, só ocorreu em fevereiro deste ano, pouco mais de dois anos após seu lançamento.

Voltando aos eSports, a estratégia da Ubisoft de crescimento de base a longo prazo foi essencial para manutenção de um cenário competitivo capaz de prosperar, principalmente se levarmos em consideração a competição de gigantes como Counter-Strike: Global Offensive e fato de Rainbow Six ser um jogo denso, pouco amistoso para quem desconhece seu meta e jogabilidade.

E novos passos importantes foram dados pela produtora neste ano para garantir que o cenário continuasse saudável.

A primeira dela foi o fim dos brackets e a adoção de um formato tradicional de liga para a Pro League a partir da segunda metade deste ano – com times de quatro regiões (América Latina, América do Norte, Europa e Ásia-Pacífico) disputando temporadas regulares de 14 semanas, que classificam os dois melhores de cada região para as finais offline.

A companhia também promoveu a primeira edição do Six Major, um novo evento que coloca mais um Major no calendário anual de eSports para chamar atenção do público e que foi promovido como uma celebração da comunidade de Rainbow Six, com US$ 350 mil em prêmios.

Por fim, vale destacar ainda a aproximação que a Ubisoft promoveu com as principais organizações internacionais envolvidas no cenário competitivo de Rainbow Six, através do Rainbow Six Pilot Program.

Anunciado em novembro, o programa de compartilhamento de receita foi fechado com dez organizações e trouxe itens cosméticos de times como Liquid, FaZe, Immortals e Ninjas in Pyjamas para o game. Os itens podem ser comprados por jogadores e têm parte suas receitas compartilhadas com os times e parte adicionada à premiação do Six Invitational.

Desafio para 2019

Reprodução/Ubisoft

O bom momento não significa que a Ubisoft não tenha desafios pela frente. O mais complicado deles, talvez, seja enfrentar as novas fronteiras que precisam ser exploradas para garantir que o jogo e sua audiência siga crescendo globalmente em seu quarto ano.

É aí que a empresa esbarra na China: país com a maior população do mundo e com uma quantidade gigantesca de espectadores apaixonados por eSports, mas onde Rainbow Six não tem tração.

Apesar de ter decolado em regiões como a América do Norte, Europa e também no Brasil, e de ter boa presença na Ásia, em regiões como Sudeste Asiático, Japão e Coreia do Sul, o jogo tático ainda engatinha na China.

Para atrair esse público interessado em jogos FPS, um cenário competitivo local precisa ser fomentado pela própria Ubisoft, assim como a publisher já fez em outras regiões – ainda mais nesse momento crucial em que a Blizzard antecipa uma expansão maciça na China com três novos times chineses da Liga Overwatch, os Hangzhou Spark, Guangzhou Charge e Chengdu Hunters.

Fora as dúvidas sobre qual será a expansão da modalidade ao longo dos próximos doze meses, é seguro apostar que a Ubisoft continuará suportando o jogo da mesma que fez ao longo das temporadas anteriores – com novos operadores, conteúdos e mapas chegando.

O que torna a aposta certa é uma indicação do próprio time de desenvolvimento do game, que afirmou em fevereiro de 2018 que tem a intenção de lançar um total de 100 operadores para o jogo – atualmente, o game conta com 44. A meta é que Rainbow Six seja suportado por ao menos 10 anos.

E o Brasil?

Gui Caielli/Reprodução

No cenário canarinho de Rainbow Six, o ano de 2018 foi de consagração e de mudanças importantes na organização interna, incluindo um novo formato e estrutura para o Brasileirão de Rainbow Six.

Após temporadas e mais temporadas na disputa, o Brasil sua primeira grande vitória internacional da modalidade, com a conquista da Team Liquid sobre a line-up da praticamente invencível PENTA (agora na G2 Esports) na grande final da sétima edição da Pro League, disputada em Atlantic City, nos Estados Unidos. As finais da temporada, inclusive, bateram reconrde de adiência, 73% mais do que temporada anterior, com 254 mil espectadores.

Além de trazer reconhecimento para o cenário local, o episódio ainda garantiu a André "nesk" Oliveira, jogador de Rainbow Six da Liquid, o prêmio de Melhor Atleta de eSports do Ano no Prêmio Esports Brasil, o que mostra que o game ganhou relevância no cenário competitivo brasileiro frente a outros jogos.

Além disso, o Brasil conta hoje com o investimento de organizações internacionais em seu cenário de Rainbow Six, representando as line-up da Team Liquid, Ninjas in Pyjamas, Faze Clan e Immortals – algo que não acontece com tanta força em outras modalidades de eSports.

Pelo segundo ano seguido, o país também recebeu as finais da oitava temporada da Pro League, desta vez no Rio de Janeiro, na Jeunesse Arena, quando os brasileiros da FaZe Clan chegaram até a final, mas não conseguiram repetir o feito da Liquid e acabaram perdendo para a G2 Esports.