Alien Isolation é um daqueles casos raros de adaptação de filme que deu certo nos games. Raríssimos, na verdade.

Trata-se de um jogo que entende seu material de inspiração e consegue transformar em mecânicas os elementos pelos quais o filme é lembrado. Alien - O Oitavo Passageiro é um terror, afinal, algo que os games parecem ter esquecido nas ultimas décadas, com péssimos títulos de ação, influenciados não por uma das obras-primas de Ridley Scott, mas pelo completamente diferente Aliens - O Resgate. Não que o longa de James Cameron não seja igualmente memorável, mas sua fórmula cheia de fuzileiros espaciais e hordas de xenomorfos esgotou-se (algo que o péssimo Colonial Marines provou no ano passado).

A trama do novo jogo é curiosa, empregando a filha de Ellen Ripley, uma jovem de 15 anos em busca da mãe desaparecida no espaço. A jornada de Amanda Ripley, uma empregada da corporação Weyland-Yutani a leva a uma estação espacial, a Sevastopol, que teria interceptado a caixa-preta da Nostromo, a nave do filme de 1979. Chegando lá, porém, a garota descobre-se em um lugar quase abandonado e enlouquecido.

Alien Isolation usa a atmosfera do filme de Ridley Scott com competência. Com o silêncio dos corredores escuros quebrado apenas pelos vazamentos de gás, rangidos metálicos ou gritos distantes, a tensão é opressora. O jogo vai crescendo aos poucos - e você passará uma boa hora sem ver um alien, tal qual o filme.

A mecânica de furtividade misturada com horror de sobrevivência (como juntar peças para montar equipamentos) é perfeita dentro dessa premissa. Esgueirar-se de um ponto a outro com objetivos de curto prazo (ative o elevador, acenda as luzes) é o grande objetivo, sem deixar que outras pessoas - ou algo muito pior - ouçam a jovem Ripley. Aliás, o Kinect pode ser usado para intensificar essa sensação, já que mapeia o movimento da cabeça do jogador enquanto ele olha além de uma esquina ou "ouve" a própria sala do jogador. Nem pense em soltar um palavrão de susto... na Sevastopol, qualquer um pode ouvir você gritar.

O visual é outra qualidade a ser destacada. A tecnologia da Sevastopol emula a da Nostromo, e a sensação é de unidade. Além do visual caprichado, a história registrada em fitas e arquivos de texto explica o que aconteceu ali antes mesmo do alien chegar. E esse mundo aberto, com corredores que com o tempo começam a ficar familiares, só fica mais interessante a cada descoberta.

O problema de Alien Isolation é a repetição. Com pouquíssimos pontos de gravação de jogo, qualquer deslize fará com que você tenha que enfrentar um grande segmento do game outra vez. E isso pode ser frustrante com o tempo. Com isso, o que antes causava pânico verdadeiro (os primeiros encontros com o alien dão até taquicardia), vira aborrecimento puro. Quanto mais o xenomorfo aparece, menos interessante o jogo fica. E o bicho às vezes fica minutos na sua frente, procurando você que está escondido em um armário ou sob alguma coisa. 20 horas disso e começa a dar um certo desespero para deixar o game de lado.

O mundo da Sevastopol vale a visita, mas precisa de refinamento. Talvez Alien Isolation funcionasse como um game menor ou pudesse incorporar novas mecânicas para uma continuação, evitando a repetição e o tédio nervoso. De qualquer maneira, o Oitavo Passageiro enfim tem um jogo digno.

Nota do crítico